domingo, 8 de setembro de 2013

Caso 036: Explosão de Hidrocarbonetos em Rede de Esgoto (1992).

Na quarta-feira 22 de abril de 1992 em 10:09h ocorreu uma explosão na galeria de esgoto da cidade de Guadalajara (segunda maior cidade no México) no meio de uma zona urbana altamente povoada. Isto foi seguido por uma série de explosões entre 10:30h e 11:30h e a última as 14:20h . Duas outras explosões ocorreram muito cedo na quinta-feira de manhã, um dos quais no bairro industrial de Álamo ao norte da cidade. As explosões resultaram da ignição do gás acumulado  duto principal (coletor) de esgoto de 3,50 m de diâmetro enterrado a 8 m sob o eixo das ruas do bairro.


AS CONSEQUÊNCIAS

Danos Humanos
O número oficial foi: 206 mortos, 500 a 600 desaparecidos, 1 800 feridos e, ao todo, 4.500 vítimas do desastre. Estima-se que a catástrofe realmente causou pelo menos 1.000 mortes. Quarta-feira era dia de feira (mercado semanal montado ao ar livre) e as ruas estavam cheias de pessoas.

Danos Materiais

As explosões sucessivas rasgaram as ruas sacudindo as casas, desmoronando-as. Veículos foram jogados para o ar e muitos foram encontrados enterrados sob os escombros. Foram 13 km de ruas completamente devastadas, 1500 casas e 637 veículos destruídos, 1.224 prédios danificados. Segundo as autoridades a catástrofe provocou danos no valor de 200 bilhões de pesos (76 milhões de euros de 2006).

O vídeo abaixo traz uma coletânea de imagens da tragédia. 
Cenas fortes...



A origem, as causas e circunstâncias do ACIDENTE

Após as explosões, as suspeitas foram direcionadas para uma empresa de petróleo PEMEX, próxima zona de desastre.
Oito dias antes do desastre, foi detectado uma perda de pressão  no oleoduto de 12 polegadas que levava o gasolina da refinaria de Salamanca, a 238 km, ao depósito de Guadalajara, ambas da empresa de petróleo PEMEX.
A perda de pressão foi o resultado da perfuração do oleoduto, levando a um  de vazamento gasolina a menos de 1 km dos tanques de armazenamento da companhia de petróleo. A linha de água cidade, provavelmente feito de cobre revestido com zinco - instalados a cinco anos, havia sido instalado encostado ao oleoduto de aço sem respeitar as normas de proteção, provocando a corrosão galvânica , em seguida, a perfuração da tubulação (o solo úmido serviu como eletrólito). A gasolina assim derramada no solo , infiltrou-se a atingindo o duto principal de esgoto a cerca de um metro do oleoduto. Esse vazamento de gasolina do oleoduto seguido de infiltração da rede de esgoto já deveria estar acontecendo a cerca de 8 dias(desde do dia da perda de pressão detecta pela PEMEX na tubulação de gasolina).



Uma segunda teoria defende que  o vazamento já estava atuando a alguns meses e a explosões ocorreram  devido a elevação da temperatura ambiente a 31°C naquela semana, aumentando  a evaporação da  gasolina e expandindo ainda mais os vapores da mesma contido no esgoto.
Em algumas casas que recebiam água potável desta tubulação de água que ficou em contato com o oleoduto,  também sofreu perda de espessura e furou, carreando gasolina junto a água potável.  

Foto do pedaço do tubo de aço de 12" (na parte inferior da foto) furado na sua geratriz superior.
O tubo de menor diâmetro trata-se de  um tubo de cobre revestido de zinco que conduzia água.
Com a corrosão galvânica, o aço da tubulação de gasolina  furou em contato com cobre.

A configuração da rede de drenagem da cidade também foi posta como uma das causas do desastre. Para resolver um problema de uma intersecção entre duto principal de esgoto e uma nova linha de metrô recém-construída, foi reconfigurado o traçado original do duto  de esgoto montando-se um sifão em “U”, o que criou condições favoráveis ​​para a criação de uma atmosfera explosiva a montante do sifão causada pela presença de gasolina no esgoto. Com a presença do sifão os gases eram impedidos de prosseguir com a fase líquida do esgoto. Assim, a fase gasosa acabou ficando represada no trecho do duto antes do sifão.



Desde o 18 de abril, quatro dias antes da tragédia, muitos moradores reclamaram da presença de vapor e de cheiro de gasolina escapando dos bueiros  das ruas e dos ralos e sanitários do interior das casas,  e em algumas residências a água potável foi contaminada pela gasolina.
Agentes de segurança pública fizeram uma série de medições de explosividade em vários locais revelando o risco potencial de explosão, entretanto, o risco não foi levado com muita seriedade pelas autoridades da cidade de Guadalajara.
Uma atmosfera explosiva em um espaço confinado estava criada e a explosão pode ter sido iniciada por uma ignição de motor de um veículo, acendimento de um interruptor ou uma ponta de cigarro jogada em um ralo.

Trecho mais afetado pelas explosões.

AÇÕES IMEDIATAS APÓS O DESASTRE

Trincheiras e seis poços de bombeamento foram escavadas para evitar a contaminação do aquífero pela mistura da água de esgoto e a gasolina. Um volume estimado de 143 m3 de gasolina foi extraído diretamente do solo encharcado pelo produto.
Técnicos estrangeiros foram acusados ​​pela falha no controle dos métodos de armazenamento e distribuição da empresa de petróleo.
Foram avaliados os riscos potenciais existentes, para estabelecer novas condições de segurança e de planejar em resposta procedimentos em caso de uma nova emergência.
A empresa de petróleo comprometeu-se a publicação de um relatório sobre o estado de todas as suas instalações (58.000 km de oleodutos, 3.200 estações de serviço) para detectar problemas semelhantes de construções e intersecções com outras instalações enterradas como água de abastecimento e de esgoto, linhas de metrô e outros.

Acompanhamento Administrativo

Em 30 de abril, 1992, O Ministério mexicano do Meio Ambiente anunciou um plano de ação com 9 pontos:
1. Quantificar os riscos nos 50 maiores centros urbanos e industriais;
2. Realizar auditorias ecológicas para empresas potencialmente perigosas;
3. Analisar os riscos envolvidos nas redes da empresa de petróleo em vários estados do país;
4. Realizar ensaios periódicos na composição do líquido e a presença de gás na rede de esgoto;
5. Diálogo com as empresas privadas para criar programas para a prevenção de acidentes e a instalação de equipamentos de segurança;
6. Reforçar o sistema de defesa civil: criação de comitês nos 50 maiores centros urbanos, a fim de fornecer suporte às populações em caso de desastres;
7. Aumentar a lista de atividades consideradas perigosas, de modo a melhorar o controle dessas atividades;
8. Regulamentar o transporte de substâncias perigosas;
9. Organizar reuniões de peritos para estabelecer padrões ecológicos, aplicá-las e fornecer meios de fiscalização para estes peritos.

Esse vídeo  abaixo exibido pela National Geographic
completa o bom entendimento sobre o caso:



REPARAÇÕES

A empresa de petróleo participou da reconstrução da zona do desastre e o Banco Mundial forneceu os fundos necessários para a construção de um novo sistema de drenagem principal.

LIÇÕES APRENDIDAS

O número de vidas ceifadas neste acidente salienta o potencial perigo em transportar indevidamente líquidos perigosos em uma zona densamente povoada. Cuidados especiais devem ser dados quanto à localização da empresa, o armazenamento desses produtos e a utilização de planos de segurança e emergência, bem como a criação e execução de procedimentos de inspeção e manutenção destas instalações.

Observando este caso, é importante notar que:
  • A enorme e descontrolada difusão de líquidos voláteis inflamáveis ​​em um espaço confinado (rede de esgoto) podem gerar grandes riscos para as pessoas, bens e meio ambiente;
  • Vazamentos  acidentais, ligados ao transporte por oleodutos e gasodutos de substâncias perigosas e sua propagação na rede de drenagem merecem ser analisados e levados em conta na planos de emergência e de controle de riscos;
  • É  desejável controlar regularmente  a presença de gás, bem como a composição de líquidos encontrados nos esgotos, principalmente em áreas urbanas consideradas de risco, devido a presença de instalações industriais que lidam com produtos perigosos.


CASOS CORRELATOS
Fonte:

Ministério de Meio Ambiente (França).

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