quarta-feira, 29 de maio de 2013

Caso 015: O Desastre da Vila Socó (1984).

Por volta das 22h30 do dia 24/02/1984 moradores da Vila Socó (atual Vila São José), Cubatão/SP, perceberam o vazamento de gasolina em um dos oleodutos da Petrobrás que ligava a Refinaria Presidente Bernardes (RPBC) ao Terminal de Alemoa. A tubulação passava em região alagadiça (mangue), em frente à vila constituída por palafitas.


Naquela noite, um operador alinhou inadequadamente e iniciou a transferência de gasolina para uma tubulação (falha operacional) que se encontrava fechada, gerando sobrepressão e ruptura da mesma, espalhando cerca de 700 mil litros de gasolina pelo mangue. Muitos moradores visando conseguir algum dinheiro com a venda de combustível, coletaram e armazenaram parte do produto vazado em suas residências. Com a movimentação das marés o produto inflamável espalhou-se pela região alagada.
Bastava uma fagulha para que tudo ardesse em chamas. Uma faísca provocada por fósforo ou curto circuito em fio elétrico colocaria fogo "à mistura" de água com combustível.



E foi o que aconteceu cerca de 2 horas após o vazamento. A ignição seguida de incêndio alastrou fogo por toda a área alagadiça superficialmente coberta pela gasolina, incendiando as palafitas. O número oficial de mortos é de 93, porém algumas fontes citam um número extra oficial superior a 500 vítimas fatais (baseado no número de alunos que deixou de comparecer à escola e a morte de famílias inteiras sem que ninguém reclamasse os corpos), dezenas de feridos e a destruição parcial da vila (mais de 500 barracos).
Nem todos os corpos reclamados pelas famílias foram encontrados. Havia muitos pedaços espalhados pelo mangue. Contudo, acredita-se que o número de vítimas foi muito maior, podendo chegar a 700 pessoas, haja vista que famílias inteiras devem ter sido queimadas, não sobrando ninguém para reclamar seus corpos.

Desastre da Vila Socó: Pobreza e tragédia ou a tragédia da pobreza.

O laudo técnico admitiu que a ruptura do duto foi resultado da corrosão de sua face exterior cuja espessura ficou restrita a apenas meio milímetro (falta ou falha de inspeção??). A Petrobrás, por sua vez, assumiu a culpa pelo vazamento, mas retrucou que, quando construiu o Oleoduto Santos-São Paulo, não havia moradias ao lado das tubulações dentro do mangue. O dia 25 de fevereiro de 1984 foi o momento mais trágico da história de Cubatão.
Segundo denúncia de pessoas que tentaram acionar os bombeiros, a incredulidade e o excesso de burocracia de funcionários  da RPBC,  quando foi constatado o vazamento, sem que o fogo tivesse iniciado, foram as causas principais do número de vítimas.
 Ao tomar conhecimento do fato, o funcionário respondeu que primeiro acionaria um  engenheiro da empresa residente em Santos e caberia a ele fazer a avaliação e chamar os bombeiros, se julgasse oportuno (falha de gestão??).
 Tivesse a providência sido tomada de imediato, é possível que os bombeiros não pudesse evitar o incêndio, mas pela vivência e pela prática, teriam talvez evacuado a área e evitado que tantas pessoas morressem ou ficasse gravemente feridas.




Fontes:

Entre Estatais e Transnacionais: O Pólo Industrial de Cubatão por Joaquim Miguel Couto,
jornal  A Cidade de Santos
e  Companhia Ambiental do Estado de São Paulo - CETESB






2 comentários:

  1. Foi uma tragédia anunciada:

    De um lado uma população pobre e desassistida pelo Poder público e de outro a inoperância dos órgãos governamentais. O vazamento do gasoduto não ocorreu de um dia para outro. Foi um vazamento de anos provocado por um pau fincado sobre o duto e que numa noita uma vela acessa para "o santo" deu ignição a tragédia.
    O descontrole emocional do Tenente do Bombeiro é fruto de uma corporação sucateada e da emoção natural de um homem assistindo impotente a morte de milhares de irmãos humildes num incendio devastador.

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  2. Creio que em nosso pais deve se investir pesado em Educação Ambiental, pois o que culminou com as mortes sem tirar a responsabilidade da Petrobras que claro foi muito lenta em seu Plano de Contingencia e Acidentes Ambientais, foi também a ocupação irregular, construindo residencias em Áreas de Preservação Permanente, a equipe de Ação em Casos de Acidentes Ambientais nesta determinada Empresa que trabalha com liquido altamente poluente e inflamável deveria se ter pensado na probabilidade de incêndio nos arredores do vazamento, lamentável.........Precisamos de Educação Ambiental se quisermos continuar a vida no Planeta Terra.

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