domingo, 1 de junho de 2014

Caso 074: O Legado de SEVESO, Itália (1976).

A cidade de Seveso, na Itália, tornou-se mundialmente famosa quando em 10 de julho de 1976 um reator da indústria química ICMESA da multinacional suíça Hoffmann-La Roche (indústria farmacêutica), localizada na cidade de Meda, liberou acidentalmente vários quilogramas da dioxina TCDD (2,3,7,8-tetraclorodibenzo-p-dioxina) na atmosfera e o produto espalhou-se por grande área na planície Lombarda, entre Milão e o lago de Como. 





Devido à contaminação, 3.000 animais morreram e outros 70.000 animais tiveram que ser sacrificados para evitar a entrada da dioxina na cadeia alimentar. Acredita-se que não tenha havido mortes de seres humanos diretamente vinculadas ao acidente, mas 193 pessoas nas áreas afetadas sofreram de cloracne e outros sintomas. O vazamento causou a contaminação de 1.800 hectares de terra. A nuvem tóxica depositou os seus venenos sobre o território das cidades de Meda, Cesano Maderno, Desio e Seveso. Devido à direção dos ventos, o território de Seveso foi o mais atingido.

Repentinamente, pássaros atingidos pela nuvem tóxica começaram a cair do céu e crianças foram hospitalizadas com diarreia, enjoos e irritação na pele.



Animais sacrificados.

Anos após o acidente, o número de vítimas de doenças cardíacas e vasculares em Seveso aumentou drasticamente, os casos de morte por leucemia duplicaram e triplicaram-se as ocorrências de tumores cerebrais. Os casos de câncer do fígado e da vesícula multiplicaram-se por dez vezes e aumentou o número de mortes em decorrência de doenças da pele. Gerou doentes crônicos e bebês com má formação congênita.
Somente 200 gramas dessa substância (dioxina cloracne), dissolvidas em água são capazes de provocar a morte de um milhão de pessoas. Essa dioxina é mil vezes mais tóxica do que o composto letal cianeto de potássio (cianureto).

As crianças de SEVESO.

O VAZAMENTO

Seveso isolada.
 Por volta das 12h30m, o reator no qual era produzido o tetraclorofenol, um componente intermédio utilizado na preparação de herbicidas e de uma substância anti-bacteriana (o hexaclorofeno), libertou uma nuvem tóxica de dioxina, na sequência de uma reação exotérmica inesperada.  A ocorrência dessa reação química foi particularmente interessante já que ocorreu num sábado às 12h30m, quando a instalação estava fechada para o fim de semana e nenhum processo estava em andamento. A mistura de produtos químicos que tinha sido deixada erroneamente no reator reagiu espontaneamente gerando calor e energia suficiente para posteriormente causar uma reação plena. Não se sabe ao certo como isto chegou a ocorrer, mas acredita-se que a produção foi paralisada no meio de um ciclo.

A partir dessa reação houve a expansão dos gases no interior do reator resultando no vazamento acidental devido a falha atribuída a uma válvula defeituosa do equipamento (reator). Porém, ficou evidenciado que a válvula não abriu por estar defeituosa e sim para evitar a explosão do reator por sobrepressão já que era uma válvula Vent que foi instalada justamente para isso (aliviar pressão). Como não havia operadores de produção naquele dia para acionar o sistema água de refrigeração, a reação química exotérmica ficou sem controle subindo a pressão perigosamente. O acionamento da válvula Vent para aliviar esta pressão é automática, dando origem assim ao “vazamento”. O grande problema é que a descarga dessa válvula era feita diretamente para atmosfera ao invés de um local seguro como um vaso de contenção, já que o produto era altamente tóxico.









O VÍDEO ABAIXO REPRESENTA GRAFICAMENTE 
A FALHA DE OPERAÇÃO, SEGURANÇA E PROJETO.





Como demonstrou a Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o desastre, o acidente esteve diretamente relacionado com a falta de investimentos na segurança das instalações da fábrica. A Roche estava, todavia, a par dos riscos da produção de triclorofenol que já tinham surgido em casos anteriores de acidentes industriais. A fábrica não dispunha de sistema de advertência nem planos de alarme à população. O prefeito local, avisado do acidente com 27 horas de atraso, não foi informado de que se tratava de um vazamento de dioxina.
A palavra "dioxina" foi somente mencionada pela primeira vez nove dias após o acidente.



DESTINAÇÃO FINAL DA DIOXINA

O solo contaminado foi removido e lacrado em duas bacias de concreto do tamanho de um estádio de futebol. O conteúdo do reator foi guardado em 41 galões para tratamento final.

Em setembro de 1982, esse material foi transportado para França ilegalmente para um local desconhecido. Durante oito meses, os galões desaparecidos foram procurados em toda a Europa. A participação de detetives e serviços secretos na busca aumentou a pressão sobre as firmas envolvidas no escândalo. Muitos médicos passaram a boicotar produtos farmacêuticos da La Roche.
Finalmente, em maio de 1983, o esconderijo do veneno foi revelado. Os barris de dioxina foram depositados num sítio, a 60 metros de uma escola, num vilarejo de 300 moradores, no norte da França. Nove anos depois da catástrofe, o lixo tóxico foi incinerado em Basiléia, na Suíça.

Trabalho de acondicionamento.

O LEGADO

ICMESA.
Este evento mais tarde veio a ser conhecido como o Desastre de Seveso ou Acidente de Seveso e foi considerado como um dos maiores desastres ecológicas do mundo.
Motivado por este desastre ambiental, a União Européia criou uma política para a prevenção e controle dos perigos associados a acidentes graves envolvendo substâncias perigosas. Essa normativa é denominada DIRETIVA DE SEVESO e possui regulamentos industriais mais rígidos onde, muito países europeus classificam diversas fábricas como sendo de "tipo Seveso", quando existe alto risco de contaminação ambiental em caso de acidente.
A Diretiva de Seveso foi atualizada em 1999 e complementada em 2005 e é atualmente conhecida como Diretiva de Seveso II (ou Regulamentos COMAH no Reino Unido).



Fonte:

Moritz Kleine-Brockhoff em http://www.dw.de
http://pt.wikipedia.org
http://laboreal.up.pt

4 comentários:

  1. Muito bom esse artigo, me ajudou muito! :D

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  2. Você sabe se a Empresa foi responsabilizada civilmente por este desastre e pagou alguma indenização?

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