sábado, 8 de março de 2014

Caso 063: Mundo Animal X Inspeção.

Alguns casos na inspeção são realmente curiosos. Relacionado à corrosão, existem casos que embora seja possível estabelecer a causa e o mecanismo do processo corrosivo, muitas vezes é difícil identificar imediatamente o agente causador do processo. Assim, inspetor tenta estabelecer teorias com base no seu conhecimento técnico para poder identificar o causador, mas a dificuldade é imensa quando o agente causador não está na lista das causas habituais, prováveis e conhecidas na área da inspeção. Especialmente quando o agente causador é um animal.

Ocorrência 01:

Em uma fábrica de válvulas de latão, o produto final eram embalados em sacos de aniagem e estocados até serem fornecidos ao cliente. Durante a utilização destas válvulas, algumas apresentaram fraturas. Inicialmente não se conseguiu determinar a causa para a ocorrência das fraturas já que o material resistia perfeitamente às condições operacionais e acompanhava as especificações de projeto.  Durante o processo de investigação, uma visita às instalações do fabricante das válvulas foi realizada. No galpão de estocagem das válvulas de latão, foi notado um forte odor de urina, que logo foi associado a ratos que frequentavam o galpão. Essa constatação tornou possível estabelecer a causa das fraturas quando averiguado, posteriormente, que a urina de rato contém teor de amônia suficiente para provocar a corrosão no latão estabelecendo assim o mecanismo de corrosão sob tensão.
O problema foi solucionado com o uso de sacos plásticos ao invés de saco de aniagem para estocar as válvulas e afastadas da presença de ratos, já que se chegou ao consenso que seria impossível extinguir definitivamente a população de roedores.



Ocorrência 02:

Em uma empresa norte-americana que fabricava e exportava painéis automotivos para o Japão, em algumas peças de tempo em tempo (algumas vezes), apresentavam corrosão acentuada nos flanges de aço-carbono destes painéis. Análises indicaram altas concentrações de cloretos. Suspeitou-se que o problema era no transporte marítimo ao Japão, mas a quantidade de cloreto em água salina era menor que as encontradas nos flanges dos painéis. Através de muita observação, foi possível perceber o agente causador do mecanismo de corrosão. Uma grande quantidade de gatos “povoava” o galpão de estocagem dos painéis em razão dos funcionários alimentarem inadvertidamente os pequenos felinos (quem iria imaginar?). O problema é que a urina dos gatos escorria pelos painéis e acumulava-se nos flanges. Essa urina quando evaporava não eliminava o cloreto sendo que este aumentava sua concentração e consequentemente a corrosão do aço carbono (flanges) era iniciada.
A solução para o problema foi a contratação de uma firma especializada para remover os gatos de forma mais civilizada possível. Creio que  ficou proibido alimentar gatos nesta fábrica.

Ocorrência 03:

Pombos também são um problema.
Três luminárias confeccionadas de aço carbono galvanizado, situadas em ambiente urbano, aparentemente estavam em contato com as mesmas condições atmosféricas. Entretanto. Somente uma das luminárias sofria corrosão acentuada que destruía a camada protetora de zinco e consequentemente corroía o aço carbono. As outras duas sempre permaneciam com o revestimento de zinco íntegro e as duas em bom estado de conservação (integridade física). Após vários dias de observações, percebeu-se a presença de uma coruja que pousava somente naquela luminária que corria frequentemente, podendo assim afirmar que os dejetos desse pássaro eram o agente causador da corrosão em uma única luminária.


Ocorrência 04:

Já foi constado que revoadas de pássaros, podemos citar como exemplo andorinhas, que em seus “voos coletivos” depositaram grande quantidade de dejetos sobre estruturas metálicas revestidas com tintas, onde ocorreu a deterioração destas camadas de pintura, abrindo uma frente de corrosão por “falha do revestimento”.



Ocorrência 05:

Outras ocorrências de corrosão associada a pássaros acontecem quando ninhos de passarinhos são feitos em perfis de estruturas metálicas. O ninho cria condições propicias para a corrosão por aeração diferencial, ou sob depósito, chegando a corroer estes perfis até sua perfuração sob os ninhos.

OBSERVAÇÃO:

Somente para registro. No ano de 2006, em um trabalho que realizei para uma consultoria no Porto de Santos/SP, cuja finalidade foi o levantamento das fontes poluidoras do porto para a Companhia Docas do Estado de São Paulo - CODESP, foi observado grande quantidade de dejetos de pombos em muitas estruturas e equipamentos portuários (guindastes, correias transportadoras, estruturas de telhados de armazéns, entre outros). A deterioração da pintura nesses equipamentos e a corrosão foram comumente observadas. Aliada ao ambiente marinho, os dejetos de pombo além de ser problema de saúde pública, influencia na integridade física dos equipamentos portuários.

Porto de Santos.

Outro caso muito interessante ocorreu com insetos e você pode ler no CASO 028 CLICANDO AQUI.


Fonte:

Gentil, Vicente. Corrosão. Rio de Janeiro. 2012.

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