domingo, 3 de novembro de 2013

Caso 045: Ruptura de Gasoduto em Appomattox (2008).

Em 14 de setembro de 2008 em Appomattox um condado com um pouco mais de 1700 habitantes, na Virginia (EUA), uma tubulação de gás natural se rompeu, formando uma bola de fogo, de mais de 1000 metros de diâmetro, ferindo 5 pessoas (três sofreram queimaduras de segundo e terceiro grau). Noventa e cinco casas foram afetadas e duas casas foram destruídas. Embora o município ser predominantemente rural, havia um aglomerado de casas próximo ao gasoduto.

Local da explosão.

A seguir, cronologia dos acontecimentos em Appomattox:

07:44: Linha “B” rompido e o sistema dispara um alarme de vazamento;
07:46: O gás vazado é ignizado por um fio caído de um poste da rede elétrica que gerou um faiscamento;
07h59: Os compressores são desligados;
08h10: A válvula de bloqueio a montante é fechada;
08h20: A válvula a jusante é bloqueada.

Detalhe da ruptura.

Acredita-se que a ruptura aconteceu em três etapas no período de dois minutos antes da ignição:
  1. A pressão do duto era de 56 kgf/cm2 (abaixo da pressão máxima trabalho admissível-PMTA), porém, com o rompimento foi o suficiente para que o gás lançasse fortemente rochas e sedimentos pelo ar. O rugido foi ensurdecedor e um tremor de terra que fez que muitas pessoas acreditar em um acidente de avião ou terremoto;
  2. Com a ruptura do duto de 30” , uma seção de 32 metros de comprimento do tubo de rasgou e saltou do chão. O segundo tubo que corria paralelamente, idêntico ao primeiro, também se rompeu. O ruído do gás escapando ficou mais alto;
  3. Para completar a rede de eventos que levaram ao desastre, um fio da linha de alimentação da rede elétrica do condado, nas proximidades do local onde ocorreu o vazamento, foi apanhado por vendaval que partiu o fio (condução elétrica) do posteamento e atingiu o chão, fazendo com que uma faísca ignizasse o gás;
  4. O bloqueamento da linha ocorreu após 36 minutos a partir do primeiro alarme de queda de pressão. Assim o fogo foi gradualmente perdendo força, permitindo que as equipes de emergência entrassem na área com segurança.

Pedaço do duto arremessado com a explosão.

SEGURANÇA

Os bombeiros que atuaram eram todos voluntários e bem treinados. Simulados já tinham sido realizados com a empresa operadora, Williams Gas Co. a mesma do gasoduto rompido, para se preparar para situações de emergência como estas. A atuação dos brigadistas e técnicos de segurança e operação foram considerados exemplares e o maior resultado desse esforço coordenado foi a inexistência de perda de vidas já que o potencial para que isso ocorresse era considerável.
A resposta coordenada ao acidente de Appomattox destaca uma tendência crescente na indústria do gás em responder prontamente a este tipo de desatre. O setor de transporte de gás natural, sob o patrocínio da Associação Interestadual de Gás Natural da América (INGAA), desenvolveu um programa para facilitar respostas coordenadas, tal como aconteceu em Appomatox.

Vista área do local da explosão.

A lição de Appomattox é que quanto mais as empresas de gás e os responsáveis pela segurança da comunidade local conheceram os riscos de explosões de oleodutos e radiação térmica, melhor poderão se proteger e responder ao evento com segurança.
Foi discutido na ocasião se sensores de ruptura seriam eficazes para o fechamento rápido de válvulas automatizadas no instante da ruptura de uma linha. Porém, constatou-se que não haveria qualquer redução significativa na taxa de vazamento de gás nos primeiros cinco minutos. Assim, o fechamento das válvulas prontamente não terá impacto sobre a segurança das pessoas que tentam escapar de um acidente como esse. O fechamento instantâneo de válvulas não teria protegido as pessoas em Appomattox. Seus ferimentos e fuga ocorreram nos primeiros quatro ou cinco minutos. Por outro lado, fechar as válvulas prontamente (neste caso, dentro de 36 minutos) reduz danos materiais. O incêndio continuará até que o gás natural seja “esgotado” no trecho isolado pelo bloqueamento das válvulas a jusante e a montante do local da ruptura.

Residência atingida pelo incêndio.

CAUSAS

Segundo os inspetores federais da Department of Transportation Pipeline and Hazardous Materials Safety Administration (PHMSA), encarregados de investigar o rompimento do gasoduto de gás natural em Appomattox, as análises indicam que houve um certo grau de perda de espessura próximo ao local da ruptura devido à corrosão, que não foram constatadas nas inspeções anteriores.
Em operação normal, o gás é empurrado através daquelas linhas a 56 kgf/cm2. A operadora dos dutos, Williams Gas Co. imediatamente baixou a pressão para 47 kgf/cm2 após a explosão de 14 de setembro e logo a PHMSA exigiu da operadora Williams, para abaixá-lo até 45 kgf/cm2, entendendo que a esta pressão, o gasoduto poderia operar com segurança naquele momento.
A linha “B” de 30” de diâmetro (linha que sofreu a ruptura), instalada em 1955, é revestida com esmalte asfáltico e protegida por um sistema de proteção catódica (click AQUI para saber mais) por corrente impressa utilizada para prevenir a corrosão. As linhas adjacentes A e C linhas são protegidas da mesma forma.
Medições de diferença potencial entre o duto e o solo realizadas em 2006 foram baixas, indicando segundo a operadora do gasoduto, eficácia do SPC. Entretanto, a empresa admitiu que tomaria medidas para melhorar essas leituras em 2007, mas não ficou claro até o momento, segundo a inspeção federal, se isso foi efetivamente realizado.

O gasoduto que atravessa Appomattox é parte da
 linha transmissora, que se estende desde o Golfo do México
para Nova York, incluindo 1380 km em Virgínia.


Em outubro de 2007, a PHMSA emitiu um Auto de Infração Provável e Penalidade Civil apontando que cinco retificadores de corrente impressa da Williams Gas Co. que protegiam as linhas da corrosão do solo, não estavam funcionando corretamente. Um desses retificadores situa-se a 3,8 km do local da explosão.
Os relatórios de inspeção do gasoduto foram levantados pelo PHMSA e foi constatado que a linha “A” foi inspecionada em 2000  e que um trecho de  11 metros teve que ser substituído perto do local de falha. As linhas “B” e “C” foram inspecionadas em 2008 antes do acidente e que um trecho de 200 metros da linha “C”, foi substituído.
Após o acidente a operadora Williams inspecionou tanto a linha “A” como a “C” e relatou que as linhas aparentemente estão em bom estado de conservação. Inspetores de dutos revisaram todas as informações e medidas coletadas nas inspeções do SPC nas três linhas, levando-os a desenterrar 20 pontos onde os reparos foram necessários entre 4,8 km ao sul do local da explosão e indo 96 km ao norte.
Ao que tudo indica a causa provável foi a falha do SPC, que mascarou a leitura de diferença do potencial naquele trecho ou negligência na interpretação dos dados coletados pelo SPC.



Fonte:

Department of Transportation Pipeline and Hazardous Materials Safety Administration (PHMSA)
Williams Gas Co.
Carrie J. Sidener

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