domingo, 30 de junho de 2013

Caso 025: Corrosão em Compressor – Vazamento de Amônia (2003).

O vazamento de  amônia ocorreu em uma empresa de beneficiamento de camarão,  com 170 empregados, em 11 de julho de 2003 na cidade de Natal no Rio Grande do Norte. Infelizmente foram registrados dois óbitos nesta ocorrência.

A empresa possui um sistema de refrigeração com amônia (NH3) e tem como equipamentos principais sete compressores, trocadores de calor, tubulações e acessórios. A quantidade de amônia no tanque de armazenamento é de 500kg.

Compressores da empresa
e local do vazamento.

O sistema de refrigeração encontrava-se em funcionamento rotineiro, quando houve o rompimento brusco da tampa de um dos compressores, ocasionando liberação da amônia liquefeita, sob pressão. Após vazamento de cerca de 40 kg do refrigerante, houve intervenção do operador do sistema, com fechamento da válvula principal e a contenção do agente no interior do tanque de armazenamento principal.
A amônia foi liberada sob forma aerossolizada, comportando-se como um gás denso e descendo da casa de máquinas para o piso inferior, por meio de uma ampla abertura existente para ventilação, formando uma nuvem que ocupou o pátio de caminhões, entre as saídas do salão de beneficiamento e o portão principal. O gás invadiu todos os espaços do estabelecimento, especialmente o salão de produção, atingindo os trabalhadores, que se encontravam em suas atividades rotineiras.
Os trabalhadores, em pânico, buscaram opções de fuga. Os primeiros passaram pela porta dotada de lava-pés, o que acrescentou ao risco já existente possíveis acidentes por queda. Ademais, ao saírem, depararam-se com a nuvem de amônia, que impedia saída pelo portão principal.
Alguns optaram por arrombar a outra porta do salão, mantida trancada a chave, encontrando, da mesma maneira, a nuvem de amônia, que inclusive impedia a visualização do desnível existente – cerca de 80cm. – no local, provocando queda em altura.
As portas abertas permitiram a entrada da amônia para dentro do salão, agravando a situação da maioria dos trabalhadores, que ainda se encontravam no local.
Diante da situação, os empregados, já em desespero, procuraram a saída dos fundos, encontrando-a igualmente fechada, desta feita a cadeado.
Os empregados passaram, então, com as próprias mãos, a quebrar os tijolos de vidro instalados para entrada de luz, existentes no alto das paredes dos fundos da empresa, e telhas de amianto, na tentativa de sair pelo teto. A saída por essas vias anômalas causou outras lesões corporais em vários empregados, além das provocadas pela amônia. Um dos primeiros trabalhadores que escapou pelo teto, descendo por um poste de iluminação, pôde retornar à entrada principal da empresa, para auxiliar na desobstrução das demais saídas.

Vidros quebrados na tentativa
de promover  ventilação.
Alguns funcionários usaram esta janelas
para escapar do interior da fábrica.

Como consequência da exposição prolongada à amônia, assim como dos demais riscos, houve dois óbitos e 127 vítimas, 18 delas afastadas por mais de 15 dias, 67 com afastamento inferior ou igual a 15 dias e 42 sem afastamento do trabalho. Ficaram evidenciados, ainda, a fragilidade e o despreparo técnico dos serviços de saúde para lidar com esse tipo de acidente, apesar de haver extremo esforço dos profissionais para o atendimento às vítimas.

Atendimento médico
aos funcionários.

O acidente foi provocado diretamente pelo rompimento da tampa do cabeçote do compressor, que apresentava alto grau de corrosão interna.


  • No entanto, o último fato deriva da existência prévia de uma série de fatores de risco, entre os quais destacam-se:
  • Inexistência de um programa de manutenção preventiva dos compressores;
  • Ausência de ventilação diluidora e/ou exaustora no local do vazamento;
  • Ausência de informação aos empregados dos riscos à saúde causados pela amônia;
  • não-realização de treinamento dos empregados para uma evacuação adequada dos locais de trabalho, em caso de vazamento de amônia;
  • Inexistência de vias de saída emergencial dos diversos locais de trabalho, incluindo portas de emergência;
  • Manutenção da porta do setor de produção, onde havia maior concentração de trabalhadores, fechada a chave, que encontrava-se em poder de terceiros durante o horário de trabalho;
  • Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) que não contemplava os riscos inerentes à amônia nem alternativas para a hipótese de um vazamento da mesma.



Cabeçote do compressor com tampa rompida devido acentuada corrosão.


Pedaço da tampa do cabeçote do compressor lançada durante ruptura.

SEGURANÇA DO TRABALHO

Como consequência das observações da Inspeção do Trabalho, o estabelecimento foi imediatamente interditado, com prejuízos que podem ser estimados, se observa ao considerar-se que a empresa exporta 100% de sua produção. A desinterdição, ocorrida uma semana após o evento, foi condicionada à avaliação técnica do sistema de refrigeração por profissional legalmente habilitado, nos moldes da NR-13, assegurando a integridade dos compressores e a sua perfeita capacidade de operação.
Autos de Infração foram lavrados em virtude de a empresa manter porta fechada a chave durante o expediente normal, por não contemplar no PPRA os riscos inerentes à amônia e pelo fato de não haver cumprimento de horário de trabalho pelo Técnico de Segurança do Trabalho do Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT).
Outros itens foram objeto de notificação, como a instalação de ventilação exaustora na casa de máquinas; o treinamento dos empregados para situações de emergência; a construção, a manutenção e a sinalização de vias de evacuação de pessoal no ambiente de trabalho; a inclusão de aspectos relacionados aos riscos da exposição à amônia no Programa de Controle Medico de Saúde Ocupacional (PCMSO) e no PPRA; a disponibilização de máscara autônoma para uso em situações de emergência; o acondicionamento de equipamentos de proteção respiratória existentes em armários adequados e devidamente sinalizados; a implantação de programa de manutenção preventiva dos compressores, com registro das ocorrências em livro próprio; e a instalação de equipamento que permita monitorização quantitativa contínua dos ambientes do trabalho para detecção da amônia.

A intervenção da Delegacia Regional do Trabalho do estado do Rio Grande do Norte – DRT/RN foi ampliada por meio da identificação das empresas com sistema de refrigeração por amônia da região, que foram convocadas para uma reunião sobre a matéria, ao final da qual foram coletivamente notificadas em relação ao cumprimento obrigatório dos seguintes itens legais:


  1. Dotar a empresa de plano de alerta e evacuação para situações de vazamento de amônia e combate ao fogo, que deverá constar do PPRA, realizando-se exercícios de simulação, pelo menos, semestralmente.
  2. Prever, no PCMSO, ações de saúde relativas à prevenção e ao atendimento de vítimas de vazamento de amônia.
  3. Dotar o local de trabalho de vias de fuga sinalizadas e desobstruídas para a rápida retirada do pessoal em serviço em caso de vazamentos de amônia ou incêndios.
  4. Dotar a empresa de portas de emergência sinalizadas e equipadas com dispositivo interno de abertura imediata em caso de sinistro, que deverão abrir no sentido da saída, sendo proibido o fechamento a chave ou cadeado durante o horário de trabalho.
  5. Dotar a empresa de sistema de alarme, audível em todo o local de trabalho, com pontos de acionamento nas áreas comuns de acesso dos pavimentos.
  6. Dotar a “casa de máquinas” do sistema de refrigeração industrial com máscara autônoma para utilização em caso de emergência, a qual deverá ser acondicionada em armário próprio, que deverá ser sinalizado, e passar por inspeção mensal anotada em ficha própria, treinando-se todos os trabalhadores do setor de refrigeração para seu uso.
  7. Dotar o sistema de compressores de amônia de dispositivo de parada de emergência, automático e/ou manual, que possa ser acionado em caso de emergência, desligando todo o sistema simultaneamente.
  8. Realizar inspeção de segurança nos vasos de pressão contendo amônia e treinar operadores, de acordo com o que estabelece a NR-13 e seus anexos.
  9. Dotar a sala de compressores de amônia de ventilação exaustora forçada, que garanta rápida troca de ar ambiente em caso de vazamento de amônia, devendo haver mais de uma botoeira de acionamento da exaustão colocadas em lugares de acesso comum.
  10. Dotar o estabelecimento de equipamento que permita monitorização quantitativa contínua das concentrações de amônia nos ambientes de trabalho.

AMÔNIA (símbolo químico NH3)

É constituída por um átomo de nitrogênio e três de hidrogênio, apresentando-se como gás à temperatura e pressão ambientes.  Liquefaz-se sob pressão atmosférica a -33,35ºC. É altamente higroscópica, e a reação com a água forma NH4OH, hidróxido de amônia, líquido na temperatura ambiente, que possui as mesmas propriedades químicas da soda cáustica. É estável quando armazenada e utilizada em condições normais de estocagem e manuseio. Acima de 450ºC, pode decompor-se, liberando nitrogênio e hidrogênio.
É facilmente detectada a partir de pequeníssimas concentrações (5 ppm) no ar pelo seu cheiro sui generis.
Apresenta risco moderado de incêndio e explosão, quando exposta ao calor ou chama. A presença de óleo e outros materiais combustíveis aumenta o risco de incêndio.

Fonte: Delegacia Regional do Trabalho do estado do Rio Grande do Norte – DRT/RN. 

RISCOS DOS SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO  COM A AMÔNIA

As instalações que trabalham com refrigerante amônia (NH3), deveriam ter como maiores preocupações, os vazamentos com formação de nuvem tóxica de amônia e as explosões.
Causas de acidentes são falhas no projeto do sistema e danos aos equipamentos provocados pelo calor, corrosão ou vibração, assim como por manutenção inadequada ou ausência de manutenção de seus componentes, como válvulas de alívio de pressão, compressores, condensadores, vasos de pressão, equipamentos de purga, evaporadores, tubulações, bombas e instrumentos em geral. É importante observar que mesmo os sistemas mais bem projetados podem apresentar vazamentos de amônia, se operados e/ou mantidos de forma precária.

São frequentes os vazamentos causados por:

  • Abastecimento inadequado dos vasos;
  • Falhas nas válvulas de alívio, tanto mecânicas quanto por ajuste inadequado da pressão;
  • Danos provocados por impacto externo por equipamentos móveis, como empilhadeiras;
  • corrosão externa, mais rápida em condições de grande calor e umidade, especialmente nas porções de baixa pressão do sistema;
  • Rachaduras internas de vasos que tendem a ocorrer nos/ou próximo aos pontos de solda;
  • Aprisionamento de líquido nas tubulações, entre válvulas de fechamento;
  • Excesso de líquido no compressor;
  • Excesso de vibração no sistema, que pode levar a sua falência prematura.

Fonte:

NOTA TÉCNICA Nº 03/2004 – Refrigeração Industrial por Amônia / Riscos, Segurança e Auditoria Fiscal 
Delegacia Regional do Trabalho do estado do Rio Grande do Norte – DRT/RN 
 MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO.


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